Durante curtos dias de descanso aproveitei para ler íntegralmente o livro do papa A Luz do Mundo, em versão portuguesa.
Um livro em que cada pergunta (90 no total) foi previamente acordada e onde cada palavra do papa é medida até à precisão milimétrica. Não há acasos nem desatenções - o papa responde com indicações muito precisas sobre todos os temas, incluindo os mais sensíveis e fá-lo querendo dar um linha de clareza e orientação pastoral. E o que resulta do livro é uma subtil mas inevitável tendência de abertura pastoral. Lentamente, muito lentamente, a Igreja move-se rumo à verdade.
Para lá da questão inovadora da possibilidade da utilização do preservativo para prevenir a Sida e da aceitação da validade do método ABC, há um outro tema fracturante onde o actual papa impõe uma interpretação pastoral mais aberta.
Refiro-me concretamente à questão da contracepção.
Em primeiro lugar - um pormenor estrutural que aparece com toda a clareza no discurso de Bento XVI e que contradiz alguns fundamentalistas mais radicais: a Igreja aceita os métodos contraceptivos. Ou seja, o PAPA afirma que os métodos naturais, admitidos plenamente pela igreja, são métodos contraceptivos. As palavras não são minhas, mas do papa himself, que assim afasta o discurso irracional que pretendia e estabelecer diferenças artificiais entre as várias categorias classificatórias dos diversos métodos contraceptivos.
Jornalista - A Igreja católica rejeita qualquer tipo de método contraceptivo?
Bento XVI - Não. Já é conhecido que aceita todos os métodos naturais, que não são só um método mas também um caminho.
Em segundo lugar o papa parece ter abandonado completamente o conceito dos "actos moralmente ilícitos" em situação de contracepção, de duvidosa sustentabilidade doutrinária. Pois a ser assim, seriam moralmente ilícitos todos os actos sexuais praticados por casais católicos que usam os métodos contraceptivos ditos naturais, em que existe, claramente, um comportamento consciente de clivagem entre a vertente procriativa e unitiva.
Abandonado este discurso doutrinário tão gasto como irracional, a questão remanescente (e explicativa) da "proibição" de alguns métodos contraceptivos mais eficazes como o preservativo ou a pílula baseia-se no pressuposto errado de que a sua utilização banaliza a sexualidade ao libertar as mulheres do jugo da gravidez não controlada.
A questão da banalização da sexualidade surge então como a questão de base do discurso papal.
As palavras do papa sobre o tema têm um toque de á-vontade ao falar sobre sexo que parece surpreendente para um homem tão idoso ainda pro cima com as suas funções.
As palavras do papa sobre o tema têm um toque de á-vontade ao falar sobre sexo que parece surpreendente para um homem tão idoso ainda pro cima com as suas funções.
Para o velho papa, a contracepção é aceitável quando se faz partindo do pressuposto que" se tem tempo um para o outro. Que se vive uma relação de longa duração."
Ora é isso precisamente isso que sucede com os casais que usam métodos contraceptivos eficazes como a pílula. A maior parte das mulheres que utiliza a pílula mantém uma relação de conjugalidade estável, de longa duração e uma relação de fidelidade.
Ora é isso precisamente isso que sucede com os casais que usam métodos contraceptivos eficazes como a pílula. A maior parte das mulheres que utiliza a pílula mantém uma relação de conjugalidade estável, de longa duração e uma relação de fidelidade.
Ao contrário do que o papa pensa ( preso talvez aos fantasmas da sua irrequieta juventude), hoje em dia as maiores utilizadoras da pílula são mulheres adultas casadas e com vários filhos, com relações estáveis.
Parafraseando o papa, " E isso é fundamentelmente diferente da situação em que, não se tendo nenhuma ligação interior a uma pessoa, se toma a pílula para se entregar rapidamente ao candidato seguinte".
Ora esta é uma concepção aparentemente inovadora, com um apontamento que abre caminhos e legitima a novas reinterpretações pastorais da Humanae Vitae.
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