segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

E por se muove


Mas apesar disso, o papa permanece refém de um certo fantasma dos anos cinquenta e sessenta, ignorando completamente a realidade do mundo de hoje.
Quando o papa associa a utilização da pílula à promiscuidade sexual tem como referente a geração das nossas avós,  quando a pílula é hoje utilizada em larga escala pelas jovens mulheres católicas netas dessas primeiras mulheres que experimentaram, pela primeira vez na história da humanidade a possibilidade de viver a sexualidade num contexto amoroso pleno, sem as limitações da biologia reprodutiva, sem os riscos da mortalidade associada ao parto. Tal revolução foi de facto algo de absolutamente extraordinário para as mulheres de todo o mundo e não é por acaso que as mulheres adoptaram a pílula tão consistentemente e de uma forma tão sistemática.
O papa por aí ficou, algures, nos loucos anos sessenta,  mas,  em 50 anos as transformações proféticas foram tão extraordinárias, que podem ser difíceis de acompanhar por um velho homem desligado da realidade amorosa.
Hoje, calcula-se que mais de 100 milhões de mulheres no mundo inteiro usem a pílula. Apesar de todas as reacções contrárias ao seu uso, de todas as críticas e reservas, de todas as interdições ideológicas e religiosas, os seus benefícios para a saúde das mulheres são consideráveis. Em Março, um estudo britânico que envolveu 46 mil mulheres, na Universidade de Aberdeen, publicado no British Medical Journal, no Reino Unido, diz que aquelas que usaram a pílula desde os anos 60 vivem mais tempo. Aliás, desde a década de sessenta a esperança média de vida mulheres cresceu exponencialmente e só continou a ser baixa nos países em que as mulheres não têm acesso à contracepção e a cuidados de saúde reprodutiva. Mas há um outro efeito extraordinário associado à pílula - com o espaçamento das gravidezes e uma contracepção eficaz , a mortalidade infantil caiu para os níveis mais baixos de sempre.

E pur se muove.

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