domingo, 19 de dezembro de 2010

Manhãs

Acordo muito cedo, por motivos de trabalho e sinto quase sempre uma misteriosa alegria.
Movo-me pela casa atenta aos respirares vários que por lá se cruzam.
Durante anos acordava várias vezes durante a noite para vigiar sonos e sonhos, fraldas e biberões, febres nocturas, benurons xarope e pesadelos infantis.
Pelas minhas contas foram quinze anos seguidos, de entrar em quartos e ver se estava tudo bem, aconchegar cobertores caídos, apanhar peluches ensonados, acalmar cólicas, fazer biberons à pressa, de olhos semicerrados ( eu a contar as doses do leite em voz alta,para não me enganar, uma colher, duas, três , quatro), os tropeções no corredor, o "agora vai lá tu que eu quero dormir um bocadinho", as crises de asma, as otites, todos com febre ao mesmo tempo e a casa a parecer uma ala do hospital pediátrico à sexta-feira...
Em algumas noites ainda por uma questão de hábito passo pelos quartos dos miúdos.
No entanto, dou por mim a surpreender-me por estas noites longas sem interrupções agudas e acordo cedo, a lembrar-me dos sonhos todos e sinto quase sempre uma misteriosa alegria.

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